Congressistas americanos pedem que Biden pressione Bolsonaro por democracia

Press release WBO 9 de setembro de 2022

  • Carta ao presidente dos EUA já tem a assinatura de pelo menos 31 deputados e 8 senadores

  • Documento acusa presidente brasileiro de ameaçar instituições democráticas às vésperas da eleição 

O presidente do Senado americano, Patrick Leahy, um dos que impulsionaram a carta que pede a Biden que pressione Bolsonaro por respeito à democracia e ao processo eleitoral no Brasil

Um grupo de 39 parlamentares democratas – 31 deputados e 8 senadores – enviaram nesta sexta-feira (9) uma carta ao presidente dos EUA, Joe Biden, pedindo que ele deixe “inequivocamente claro para o presidente [do Brasil, Jair] Bolsonaro, seu governo e as forças de segurança que o Brasil se encontrará isolado dos EUA e da comunidade internacional de democracias caso haja tentativas de subverter o processo eleitoral do país”, daqui a outubro.

O grupo de parlamentares americanos – formado por membros proeminentes no Congresso, reconhecidamente influentes e ativos na agenda de política externa dos EUA – pede ainda Biden garanta “que o governo brasileiro entenda que tais esforços [de Bolsonaro contra a democracia e o sistema eleitoral] terão sérias consequências, incluindo uma revisão do status do Brasil como um parceiro global da Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte] e [como] um importante aliado extra-Otan”, assim como a perda do “apoio dos EUA à adesão do Brasil à OCDE [Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico] e à futura defesa bilateral e cooperação de segurança”.

Os parlamentares dizem no texto que “a retórica imprudente e perigosa do presidente Bolsonaro sobre fraude eleitoral levanta sérios temores de que ele possa impedir uma transferência pacífica de poder se perder”, entre a eleição de outubro e a posse, em janeiro. O documento relembra que “em junho, ele [Bolsonaro] prometeu publicamente ‘ir à guerra’ se necessário para evitar uma eleição roubada. Em 7 de setembro de 2021, o presidente Bolsonaro exortou seus apoiadores a atacar o Supremo Tribunal do país. Mais preocupante ainda, o presidente Bolsonaro também convocou as Forças Armadas a intervir no processo eleitoral por meio de uma contagem paralela de votos, função constitucionalmente reservada à Justiça Eleitoral do Brasil. Ao fazer isso, ele está colocando em risco a neutralidade constitucional dos militares”, diz o texto.

Num dos trechos, os parlamentares recorrem à memória recente da invasão ao Capitólio, sede do Congresso americano, em 6 de janeiro de 2021, quando apoiadores do então presidente, Donald Trump, invadiram o edifício numa tentativa de impedir que Biden tivesse sua vitória nas urnas chancelada pelos parlamentares responsáveis. “Tendo experimentado pessoalmente os horrores da insurreição de 6 de janeiro, sabemos muito bem as consequências que podem ocorrer quando demagogos promovem a desinformação sobre a legitimidade e integridade dos processos eleitorais, atacam publicamente autoridades eleitorais independentes e incitam apoiadores a sustentar suas reivindicações infundadas”, diz a carta. 

Série de advertências

A manifestação dos parlamentares americanos ocorre depois de a Embaixada dos EUA em Brasília ter publicado comunicado em 18 de julho no qual remarcou sua confiança no sistema eleitoral brasileiro e depois de o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd J. Austin III, ter defendido, em 27 de julho, o “controle civil firme dos militares” nas Américas, o que inclui o Brasil.

Além disso, outros senadores, como o democrata Bernie Sanders, de Vermont, e a deputada Sara Jacobs, da Califórnia, vêm coletando assinaturas de seus pares, desde 11 de agosto, para propor uma moção no Congresso americano em defesa da democracia e do respeito ao processo eleitoral brasileiro.

Membros da comitiva brasileira são recebidos pelo deputado democrata Jamie Raskin, membro da comissão que investiga a invasão ao Capitólio em 6 de janeiro. Crédito: Maria Magdalena Arréllaga/WBO

Uma parte desses esforços internacionais ocorre após o WBO (Washington Brazil Office) ter organizado, de 24 a 29 de julho, a visita de uma comitiva com 19 representantes de organizações da sociedade civil que foram a Washington alertar parlamentares americanos, membros do Departamento de Estado, organizações civis locais e imprensa sobre as ameaças ao processo eleitoral brasileiro neste ano. O principal pedido foi de que esses interlocutores se manifestem em defesa da democracia no Brasil e reconheçam o resultado das eleições como legítimo, tão logo ele seja anunciado, independentemente de quem seja o vencedor.

Os proponentes da carta entregue a Biden nesta sexta-feira (9), em Washington, são o presidente do Senado, Patrick Leahy (Vermont), e a deputada Susan Wild (Pensilvânia), na Câmara.

Signatários

Além de Leahy, que é presidente do Senado, outros sete senadores assinam o documento endereçado a Biden: Robert Menendez (Nova Jersey), Ben Cardin (Maryland), Jeff Merkley (Oregon), Chris Van Hollen (Maryland), Sherrod Brown (Ohio), Tim Kaine (Minnesota) e Benie Sanders (Vermont).

Na Câmara dos Representantes, equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil, os signatários da carta são: Albio Sires (Nova Jersey), que é também presidente do comitê da Câmara responsável pelo Hemisfério Ocidental, além de Susan Wild (Pensilvânia), que é a proponente, e os seguintes parlamentares: Raúl M. Grijalva (Arizona), Henry C. "Hank" Johnson (Geórgia), James P. McGovern (Massachusetts), Jamie Raskin (Maryland), Ro Khanna (Califórnia), Jesús G. “Chuy” García (Illinois), Tom Malinowski (Nova Jersey), Dina Titus (Nevada), Sara Jacobs (Califórnia), Gerald E. Connolly (Massachusetts), Eleanor Holmes Norton (Distrito de Columbia), Cori Bush (Missouri), Katie Porter (Iowa), Jan Schakowsky (Illinois), Maxine Waters (Califórnia), Dwight Evans (Pensilvânia), Lloyd Doggett (Texas), Andy Levin (Michigan), Grace F. Napolitano (Califórnia), Raja Krishnamoorthi (Illinois), Gregory Meeks (Nova York), Barbara Lee (Texas), Katherine M. Clarck (Connecticut), Lucille Roubal-Allard (Califórnia), Mark Pocan (Wisconsin), Steve Cohen (Nova York), David N. Cicilline (Rhode Island), Alexandria Ocasio-Cortez (Nova York) e Juan Vargas (Califónia) .

Previous
Previous

Manifesto internacional em defesa das eleições no Brasil

Next
Next

Organizações brasileiras vão à União Europeia para denunciar ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral