Parlamentares americanos pedem investigação de Bolsonaro
WBO Press release 12 de janeiro de 2023
Documento defende ainda revogação do visto concedido ao ex-presidente brasileiro
WBO participou da articulação com congressistas, em Washington
Um grupo de parlamentares americanos entregou na noite desta quarta-feira (11) uma carta ao presidente dos EUA, Joe Biden, pedindo que o ex-presidente Jair Bolsonaro seja investigado por possível envolvimento com os ataques à democracia no Brasil. Eles pedem também que Biden revogue qualquer visto diplomático que Jair Bolsonaro possa ter. O WBO (Washington Brazil Office) é uma das organizações que participaram da iniciativa.
"Até onde sabemos, Bolsonaro entrou nos EUA quando ainda era presidente do Brasil e deve tê-lo feito por meio de um visto A-1, reservado a indivíduos em visita oficial ou diplomática", diz o texto entregue pelos parlamentares a Biden. O grupo pede a revogação desse visto, argumentando que Bolsonaro já não exerce cargo oficial.
Além disso, pede que as autoridades americanas "investiguem qualquer papel que Bolsonaro e membros de seu entorno possam ter tido nos eventos de 8 de janeiro, ou crimes que possa ter cometido quando estava no cargo" de presidente do Brasil.
O ex-presidente brasileiro está em Orlando, na Flórida, desde o dia 30 de dezembro. Ele perdeu as eleições de 30 de outubro e deixou o país na véspera de seu rival, Luiz Inácio Lula da Silva, assumir o cargo, em 1º de janeiro.
Na segunda-feira (9), o porta-voz do Departamento de Estado americano, Ned Price, disse que Bolsonaro não pode continuar no país com o visto de chefe de Estado, sinalizando que ele deveria solicitar outro visto, como de turista, caso queira permanecer em solo americano. No mesmo dia, Bolsonaro foi internado para tratar complicações da cirurgia que sofreu no abdômen e disse em entrevista à CNN que pretendia ficar nos EUA apenas "até o fim do mês" de janeiro.
Bolsonaro coleciona dezenas de declarações em favor do armamento da população e da resistência de seus apoiadores a um resultado adverso nas eleições. Por isso, é associado à violenta ação de militantes de extrema direita contra os três Poderes, nas invasões de prédios públicos ocorrida em Brasília no dia 8 de janeiro.
Não há, no entanto, nenhum pedido de deportação ou extradição contra Bolsonaro no Brasil. Ele é alvo de inquérito conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes e pode vir a ser chamado a depôr numa futura CPI, mas nenhuma das duas situações representa condenação judicial – razão pela qual não há nenhum pedido de extradição contra ele.
A iniciativa de redigir e enviar a carta a Biden é liderada, no Congresso americano, pelo deputado Joaquin Castro, do Texas, e conta com dezenas de assinaturas.
"A esta altura já é bastante claro como esses movimentos radicais de extrema direita agem de forma articulada no Brasil e nos EUA. As decisões sobre como lidar com isso, como enfrentar essa ameaça, cabe primeiro aos governos do Brasil e dos EUA, além de seus Congressos e outras instâncias. Nós, como WBO, trabalhamos para aproximar esses atores e facilitar o diálogo e as ações correspondentes", disse Paulo Abrão, diretor-executivo do WBO
OUTRAS INICIATIVAS
Nesta mesma quarta-feira (11), um grupo de mais de 60 parlamentares americanos e brasileiros divulgou uma declaração conjunta na qual condena “atores autoritários e antidemocráticos da extrema direita” que agem em conluio para atacar as democracias do Brasil e dos EUA. O WBO foi responsável pela articulação da iniciativa entre os parlamentares dos dois países.
Na declaração conjunta, o grupo se refere aos ataques ao Capitólio, em Washington, em 6 de janeiro de 2021, e aos ataques à Praça dos Três Poderes, no dia 8 de janeiro de 2023, em Brasília.
Para os parlamentares envolvidos na iniciativa, “não é segredo que agitadores da extrema direita no Brasil e nos EUA estão coordenando esforços”. Exemplo disso são os encontros entre o deputado federal Eduardo Bolsonaro e ex-assessores de Donald Trump, como Jason Miller e Steve Bannon, que “encorajaram Bolsonaro a contestar os resultados das eleições no Brasil”.
O WBO é um think tank independente e apartidário que se dedica de maneira especializada a promover cooperação e conhecimento sobre a realidade brasileira e a oferecer apoio ao trabalho internacional da sociedade civil, movimentos sociais e demais setores do Brasil em Washington, em defesa da democracia, dos direitos humanos, do meio ambiente e das liberdades.