Congresso americano realiza sessão sobre abertura de arquivos da ditadura no Brasil

WBO Press release
5 de dezembro de 2023
     

Crédito: Correio da Manhã/Arquivo Nacional

  • WBO e outras 15 organizações parceiras pedem acesso a documentação sigilosa

  • Organizações e pesquisadores destacam a importância do acesso aos arquivos para o campo da memória e da justiça

O Congresso dos EUA realizou nesta terça-feira, dia 5 de novembro, um briefing (sessão informativa) sobre o pedido de retirada do sigilo sobre documentos americanos que tratam do golpe de 1964 e dos 21 anos de ditadura no Brasil.

O briefing contou com exposições feitas pelo presidente do Conselho Diretivo do WBO (Washington Brazil Office), James N. Green, que é também professor de história e cultura brasileira na Universidade Brow. Participam também a cientista política Maria Hermínia Tavares, pesquisadora do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) e Gabrielle Abreu, coordenadora do Instituto Vladimir Herzog.

O gabinete da deputada democrata Nydia Velásquez foi parceiro dessa iniciativa, que contou com a participação remota de 37 pessoas, incluindo assessores parlamentares americanos, pesquisadores, acadêmicos e jornalistas de ambos países.

O brief é parte de um esforço que teve início no dia 5 de julho, com o envio de uma carta assinada por 16 organizações e 8 pesquisadores ao presidente dos EUA, Joe Biden, pedindo a liberação dos documentos.

Em sua exposição, a cientista política Maria Hermínia Tavares explicou: “nós, que trabalhamos com documentos históricos, sempre sabemos que arquivos podem nos surpreender. A história nunca está completamente contada, pois sempre é possível que uma informação a mais nos mostre uma perspectiva diferente. No caso da relação Brasil-EUA, que é tão complexa, a expectativa é de que cada documento possa iluminar melhor os acontecimentos, para que possamos entender melhor como eram essas questões – quem falava com quem, que não se dava com quem, quem agiu de quê forma. Então, para qualquer historiador, essa abertura dos arquivos seria fundamental. Todo pesquisador gosta quando suas ideias são contestadas por documentos. Nós gostamos quando os documentos nos dizem: ‘olha, isso não era bem assim, como você pensava.”

Gabrielle Abreu, do Instituto Vladimir Herozg, contextualizou a importância da desclassificação desses documentos num país em que Lei de Anistia de 1979 impede que a história seja completamente conhecida e os protagonistas do golpe e da ditadura sejam responsabilizados, mesmo com avanços como a criação da Comissão de Mortos e Desaparecidos, em 1995, e da Comissão Nacional da Verdade, em 2012.

“A retirada do sigilo de documentos sobre a ditadura é algo que permitiria uma compreensão mais aprofundada dos fatos e encorajaria a agenda do movimento por memória e justiça no Brasil, daria um impulso ao trabalho dos que lutam para que essa história nunca seja esquecida”, disse Gabrielle Abreu.

“Sempre há elementos a serem revelados e nós temos a expectativa da descoberta de novos aspectos da história do regime militar. Além disso, há o direito de todos os brasileiros e brasileiras de conhecerem sua própria história. Mesmo que não sejam documentos produzidos pelo Brasil, são documentos que falam sobre a história do Brasil. São registros que dizem respeito a cada um de nós. Nós temos direito à memória e à verdade. Há uma responsabilidade compartilhada neste caso.”

James N. Green realçou que “há um desconforto no Brasil com o papel que os EUA desempenharam nesse período histórico. Portanto, revelar esse passado e mostrar esses documentos seria uma demonstração de que os EUA não têm medo de revelar a história. Senão, as pessoas ficam achando que há algo deliberadamente escondido.”

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