Organizações brasileiras pedem que EUA abram arquivos secretos do golpe de 1964

WBO press release
05 de julho de 2023

Atualizado em 30 de março de 2024, com a inserção de vídeo de James N. Green

Protesto contra a ditadura, no Rio de Janeiro, em 1968. Crédito: Memorial da Democracia.

  • Grupo de 16 entidades e 8 personalidades ligadas ao estudo da história querem acesso a registros sigilosos em Washington

  • Em carta, signatários apelam para espírito de transparência de Biden e de fortalecimento da democracia nas relações Brasil-EUA

Um grupo de organizações da sociedade civil brasileira entregou nesta quarta-feira, dia 5 de julho de 2023, ao presidente dos EUA, Joe Biden, uma carta na qual pedem que o governo americano retire o sigilo imposto a documentos relativos ao golpe de Estado ocorrido no Brasil em 1964 e à ditadura que se seguiu até 1985. Esses documentos foram produzidos por diferentes instâncias do governo dos EUA, como a CIA, que é a agência de inteligência americana, e o Departamento de Estado, equivalente ao Ministério das Relações Exteriores.

Na carta, as organizações apelam para "o compromisso com a transparência e a defesa da democracia" que une os governos dos EUA e do Brasil. O grupo também menciona a efeméride dos 200 anos do reconhecimento feito pelo governo americano à independência do Brasil, ocorrida em 1822. Dirigindo-se a Biden, os signatários relembram que o período da ditadura (1964-1985) "foi caracterizado pela repressão, pelos abusos de direitos humanos e pela restrição das liberdades civis" e remarcam que essas são "cicatrizes que continuam a impactar a sociedade ainda hoje".

"Ao desclassificar documentos relacionados à ditadura brasileira, o senhor demonstraria seu compromisso inabalável com a verdade, a responsabilidade e o Estado de Direito. Além disso, isso enviaria um sinal poderoso ao povo brasileiro de que os Estados Unidos estão do lado deles em sua busca por justiça e defesa da democracia. A desclassificação também forneceria informações valiosas sobre as violações de direitos humanos cometidas durante a ditadura brasileira e esclareceria o grau de envolvimento ou conhecimento dos Estados Unidos sobre esses eventos. Esse ato de transparência fortaleceria também as bases de nossa relação bilateral, fomentando confiança e colaboração em questões importantes como direitos humanos, democracia e estabilidade regional", diz o texto da carta.

O documento é assinado por um grupo de 16 organizações da sociedade civil e oito personalidades, incluindo 7 presidentes da ANPUH (Associação Nacional dos Professores Universitários de História), dentre eles o presidente atual. O WBO (Washington Brazil Office) é uma das 16 organizações que firmam o documento, e foi responsável pela articulação da iniciativa.

O presidente do Conselho Diretivo do WBO é o historiador americano James N. Green, que leciona História Brasileira na Brown University e é autor de 11 livros sobre o Brasil. Em entrevista ao jornal brasileiro Folha de S.Paulo, publicada no dia 3 de julho, que a desclassificação dos documentos secretos por parte do governo americano "seria um sinal de boas intenções, no contexto de 60 anos do golpe militar e dos 200 anos do reconhecimento da independência do Brasil pelos EUA, de mostrarem que realmente acreditam na democracia".

O WBO é um think tank independente e apartidário que se dedica de maneira especializada a promover cooperação e conhecimento sobre a realidade brasileira e a oferecer apoio ao trabalho internacional da sociedade civil, movimentos sociais e demais setores do Brasil em Washington, em defesa da democracia, dos direitos humanos, do meio ambiente e das liberdades.

Lista completa dos siganatários:

Ação da Cidadania
Associação Nacional de História (ANPUH)
Artigo 19
Centro Dom Helder Camara de Estudos e Ação Social
Center for Economic and Policy Research
Coalizão Brasil por Memória, Verdade, Justiça, Reparação e Democracia
Coletivo de Filhos e Netos por Memória, Verdade e Justiça
Coletivo RJ Memória, Verdade, Justiça e Reparação
Comissão Arns
Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos
Grupo Tortura Nunca Mais da Bahia
Instituto Vladimir Herzog
Movimento de Justiça e Direitos Humanos
Núcleo Memória de SP
Opening the Archives Project, Brown University
Washington Brazil Office


Benito Bisso Schmidt, Presidente da ANPUH 2011-2013
Durval Muniz de Albuquerque Júnior, Presidente da ANPUH 2009-2011
Jair Krishke, Presidente do MJDH
Joana Maria Pedro, Presidenta da ANPUH 2017-2019
Luiz Carlos Soares, Presidente da ANPUH 2003-2005
Lana Lage da Gama Lima, Presidenta da ANPUH 1997-1999
Maria Helena Rolim Capelato, Presidenta da ANPUH 2015-2017
Valdei Lopes de Araújo, Presidente da ANPUH 2021-2023

Previous
Previous

Organizações dos movimentos negros reivindicam voz ativa na implementação de acordo racial Brasil-EUA

Next
Next

CIDH recebe relatos de violações de Direitos Humanos dos Povos Indígenas do Brasil