O papel da comunicação para os movimentos sociais brasileiros

James Green e Paulo Abrão são, respectivamente, presidente do Conselho Diretivo e diretor-executivo do WBO. Green é professor de história e cultura brasileiras na Universidade Brown, em Providence, Rhode Island, e autor de 11 livros sobre o Brasil. Abrão é Visiting Scholar no Watson Institute for International and Public Affairs da Universidade Brown e assessor sênior da Artigo 19 para a América do Sul. O artigo foi escrito por ambos para a centésima edição do boletim semanal do WBO, de 19 de janeiro de 2024. Para assinar e receber semanalmente as edições do boletim do WBO, com notícias e análises sobre o Brasil, gratuitamente, insira seu email no formulário abaixo.


O boletim informativo do WBO (Washington Brazil Office) chega no dia 19 de janeiro de 2024 à sua centésima edição. Este é um marco importante para um projeto de comunicação que, a partir do Brasil, vem oferecendo ao longo dos anos um ponto de vista informativo e analítico sobre o que se passa no país, nas áreas política, econômica e social.

Ao longo dessas cem semanas, o boletim dos WBO consolidou-se como um farol confiável num mar de acontecimentos complexos. Os últimos anos foram marcados por fatos transformadores no Brasil, como a eleição de um governo de extrema direita, capitaneado pelo agora ex-presidente Jair Bolsonaro e a volta ao poder do atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, que, depois de ter sido preso pela Operação Lava Jato, teve uma volta por cima triunfal, liderando num movimento para restabelecer a democracia no país, depois dos abalos de uma tentativa frustrada de golpe de Estado.

Entender e explicar a dinâmica política brasileira não é fácil sequer para comunicadores e leitores que nasceram no país e falam português. Quando se trata de transportar essa realidade a um público estrangeiro, tudo se torna ainda mais desafiador.

Não é comum que haja publicações periódicas, sólidas e confiáveis em inglês. O público estrangeiro pode até encontrar informações mais ou menos esporádicas em grandes jornais internacionais sobre os principais acontecimentos do Brasil. Emissoras de televisão e agências de notícias também oferecem algum acompanhamento jornalístico dos acontecimentos, assim como algumas revistas, sites e publicações especializadas, ligadas a centros de estudos acadêmicos ou a think tanks americanos e europeus. Mas isso não é suficiente para quem precisa ir além.

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Publicação chegou em janeiro de 2024 a sua centésima edição e passou a ser distribuída também em português

Existe um grande número de acadêmicos, jornalistas, pesquisadores de todos os tipos, ativistas, sindicalistas, membros de governos e assessores parlamentares, além de deputados e senadores, que dependem não apenas da narração dos fatos que ocorrem no Brasil, mas também de uma explicação analítica e didática que seja capaz de contextualizar as singularidades da realidade brasileira, comparando-as ou contrastando-as com os parâmetros comparativos do público estrangeiro.

Sem isso, a informação não tem sentido. Ou o sentido verdadeiro de fato pode se perder, por falta de contextualização, levando o leitor à tomada de decisões mal informadas, o que pode trazer distorções e riscos para quem precisa produzir análise, conhecimento e decisões nas relações com o Brasil, com sua economia e com suas organizações.

Ao longo dessas cem edições, o WBO formou um público cativo de quase 3 mil leitores. Toda sexta-feira, esses leitores recebem de forma gratuita um resumo dos fatos do Brasil, contextualizados, além de um editorial redigido por André Pagliarini, professor assistente de história no Hampden-Sydney College, na Virgínia, e de pesquisador associado do WBO; e um artigo semanal assinado por um convidado externo, que seja especialista em sua área de domínio e possa oferecer um ponto de vista profundo e bem informado sobre seus temas de pesquisa e trabalho – sejam eles em área abrangentes, como meio ambiente, gênero, raça, economia e direitos humanos de maneira mais ampla, seja em aspectos específicos dessas grandes áreas, como análises recém-publicas a respeito da política externa do governo Lula ou sobre singularidades do funcionamento do Poder Legislativo brasileiro.

Para comemorar a centésima edição do boletim, o WBO tomou a decisão de passar a distribuí-lo também em português. Essa decisão corresponde a um esforço de colaborar não apenas com um público leitor estrangeiro, mas também de começar a levar aos parceiros e aliados das organizações e movimentos da sociedade civil brasileira um material informativo que seja ágil, claro, de fácil compreensão e sem custo, porque a boa informação – a informação confiável, precisa e clara – é fundamental para a leitura do contexto no qual essas organizações operam, e também nos processos de tomada de decisão.

A imprensa é importante. O WBO promove, defende e colabora com os jornalistas de rádio, TV, jornais, sites, portais e revistas, além de se associar na defesa de seus direitos, colaborando com organizações do setor. Mas o WBO também investe, estimula e promove a comunicação que é feita pelas organizações e movimentos da sociedade civil, como forma de dar visibilidade e legitimidade a uma comunicação popular que nem sempre se vê refletida com fidelidade nos grandes meios.

As cem edições do boletim do WBO – assim como os outros produtos de comunicação, tais como o podcast Brazil Unfiltered, o site e as redes sociais – são expressões concretas dos princípios que a organização promove e defende, além de serem também ferramentas práticas para aproximar interlocutores, diminuir distâncias entre realidades, dar voz e vez a quem está negligenciado e, com isso, contribuir para a formação de um ecossistema informativo mais diverso, plural, democrático, confiável e útil para todos os que precisam compreender, toda semana, o que de fato se passa no Brasil.


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