A entrevista de Celso Amorim ao Brazil Office
Press release WBO 29 de novembro de 2022
Ex-ministro de Itamar, Lula e Dilma fala sobre a política externa do novo governo brasileiro
Em conversa com James N. Green no podcast Brazil Unfiltered, o diplomata analisa o futuro das relações com os Brics, os vizinhos sul-americanos e os EUA
Celso Amorim foi o entrevistado da edição lançada nesta segunda-feira (28) do podcast Brazil Unfiltered. O programa é em inglês, tem 1 hora de duração e está disponível nas principais plataformas de áudio, além do Youtube. O Brazil Unfiltered é o podcast quinzenal produzido pelo WBO (Washington Brazil Office), e apresentado pelo professor de história e cultura brasileira da Brown University, James N. Green.
Na entrevista, Amorim fala de seus quase dez anos de experiência como ministro das Relações Exteriores de dois governos brasileiros – Itamar Franco (1993-1995) e Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011) – além dos quatro anos como ministro da Defesa do governo de Dilma Rousseff (2011-2015). Ele também projeta alguns tópicos da política externa do novo mandato de Lula, programado para ter início em 1º de janeiro de 2023.
Perguntado sobre a possibilidade de tornar-se o ministro das Relações Exteriores desse novo governo, Amorim respondeu: “Eu acho que não. Acho que já fiz o bastante. Bom, se Lula pedir, claro … Mas eu acho que não. Se eu tiver uma sala nos fundos do Palácio [do Planalto, sede do governo] e ele [o presidente Lula] me chamar de vez em quando para tomarmos um café uma ou duas vezes por semana, ok, eu ficaria muito feliz.”
Amorim falou ainda sobre os questionamentos do atual presidente, Jair Bolsonaro, e de militares de seu entorno ao sistema eleitoral e à democracia no Brasil, considerando que o risco de um golpe está superado.
“Eu estou bastante convencido de que eles [os militares brasileiros] farão todo o possível para [respeitar a democracia e o resultado das eleições] – eu não posso dizer ‘de forma suave’, pois, como você pode ver, há manifestações acontecendo etc [na frente dos quartéis] –, mas eu acho que não há dúvida [quanto ao respeito à transição de Bolsonaro para Lula]. Eu falei com alguns deles [militares], que ainda estão na ativa, e eles estão olhando para o futuro. Não estão dizendo ‘eu amo o Lula’, mas estão olhando para o futuro”, disse o ex-chanceler e ex-ministro da Defesa.
Questionado sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia, Amorim disse: “Não temos dúvida de que a Rússia estava errada ao invadir a Ucrânia, devo dizer. Eu também acho que geopoliticamente não foi inteligente ter expandido a Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte]. Mas temos de olhar para o futuro e para a urgência de uma negociação de paz, e se nós pudermos ajudar, dando alguma voz alternativa …”
Ao longo da conversa, o diplomata falou ainda sobre a importância da integração sul-americana e dos desafios contemporâneos enfrentados pelos Brics, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Ele trouxe à tona de novo a preocupação em fortalecer o protagonismo dos países do Sul-Global – algo que marcou sua gestão à frente do Itamaraty nos dois primeiros mandatos de Lula – e analisou o papel dos EUA.
Em relação aos americanos, Amorim elogiou o trabalho do WBO, de informar autoridades do governo Joe Biden e membros do Congresso, em Washington, sobre os riscos que Bolsonaro representava para a democracia brasileira, ao questionar sem fundamento as urnas. A pressão exercida pelos EUA neste caso “foi essencial para a elite brasileira, que ainda é muito colonizada”, disse o ex-ministro.
Ainda sobre os EUA, ele disse esperar dos americanos “a defesa da paz e o rechaço à idade de fazer cruzadas intervencionistas”, mencionando nominalmente os casos de Venezuela, Cuba, Rússia e China. Para Amorim, “a administração Biden está lentamente aprendendo isso”.
O Brazil Unfiltered é um programa quinzenal que está em seu 50º episódio, com uma audiência acumulada de aproximadamente 15 mil downloads nas plataformas de áudio e mais de 22 mil views no Youtube. Ele é uma iniciativa que busca dar visibilidade às personalidades e organizações da sociedade civil brasileira nos EUA, além de manter interlocutores relevantes nos EUA bem informados sobre o contexto político e social brasileiro.