Bolsonaristas recorrem à violência em Brasília, a um mês da posse de Lula
Press release WBO 15 de dezembro de 2022
Golpistas e manifestantes violentos precisam ser contidos pela polícia e responsabilizados pela Justiça
Comunidade internacional deve manter a atenção neste momento decisivo para o Brasil
Apoiadores do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, queimaram ônibus, apedrejaram carros, dispararam rojões, lançaram paus e pedras e atacaram um posto da Polícia Federal na capital, Brasília, na noite desta segunda-feira (12). A onda de violência teve início após a cerimônia de diplomação de Luiz Inácio Lula da Silva como o próximo presidente do Brasil.
Lula derrotou Bolsonaro nas eleições presidenciais realizadas em 2 de outubro (primeiro turno) e 30 de outubro (segundo turno) de 2022. O candidato do PT (Partido dos Trabalhadores), de esquerda, teve 2 milhões de votos a mais que o rival, de extrema direita, que buscava a reeleição. A posse de Lula está marcada para 1º de janeiro de 2023. A cerimônia de diplomação realizada nesta segunda-feira (12) é uma etapa prévia nesse processo, que formaliza o resultado eleitoral e habilita o petista para ser empossado.
Apoiadores do presidente Bolsonaro se recusam a aceitar a derrota. Desde a eleição, eles bloqueiam rodovias e acampam na frente de instalações militares, pedindo que as Forças Armadas dêem um golpe de Estado e instaurem uma ditadura para impedir que Bolsonaro deixe o cargo e Lula governe. O próprio presidente lança mensagens de apoio velado aos golpistas e dissemina informações falsas a respeito de uma inexistente fraude no sistema de urnas eletrônicas – cuja confiabilidade é atestada pela Justiça Eleitoral e por observadores internacionais.
Nesta segunda-feira (12), o movimento golpista protagonizou episódios de violência na capital. Eles tentaram lançar um ônibus em chamas de cima de um viaduto e estilhaçaram vidraças de um posto da Polícia Federal, a pouco mais de um quilômetro do hotel em que Lula estava hospedado.
A segurança de Brasília é de responsabilidade do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, do MDB (Movimento Democrático Brasileiro). Ele disse ter dado ordens para que a polícia prendesse os envolvidos nos ataques ilegais, mas a própria Secretaria de Segurança Pública, subordinada a Rocha, diz que ninguém foi preso. A discrepância faz crescer as suspeitas de que forças policiais estaduais simpáticas à corrente militarista de Bolsonaro possam agir ou se omitir à revelia das autoridades civis, para alentar ou incrementar o movimento golpista no país.
Nesta quinta-feira (15), o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, determinou que a Polícia Federal cumprisse mais de cem mandados de busca e apreensão e quatro mandados de prisão contra bolsonaristas radicais, em oito estados e no Distrito Federal. Num dos endereços, foram apreendidos fuzis e rifles com miras de longo alcance.
A visão do WBO
O WBO (Washington Brazil Office) chama a atenção para o risco que o movimento golpista, liderado por Bolsonaro, representa para o Brasil e para a democracia.
“Faz tempo que nós alertamos para o perigo desses dois meses que separam a eleição da posse. Neste período, Bolsonaro ainda está no cargo e exerce o poder. É extremamente preocupante que a pessoa mais importante do regime presidencialista brasileiro siga adotando uma postura ambígua ou às vezes de claro e aberto incentivo a um golpe de Estado no país. Precisamos que a comunidade internacional mantenha a atenção com o que vem acontecendo no Brasil e manifeste de forma clara a preocupação com uma transição pacífica de governo, dentro das normas e em ambiente de paz”
James N. Green
Presidente do Conselho Diretivo do WBO
Professor de história e cultura brasileira na Brown University“É preciso agora uma resposta institucional que seja clara e comprometida com o respeito à democracia. Os manifestantes violentos devem ser contidos pela polícia e julgados pela Justiça, dentro da lei. Qualquer omissão com esse movimento ilegal agora certamente trará problemas maiores no futuro. A democracia pressupõe respeito às eleições e ao resultado eleitoral. Pressupõe respeito aos ritos de uma transição democrática do poder e também respeito às instituições e às leis. Não é possível que os golpistas se escondam detrás de uma falsa defesa do direito à livre expressão para atacar a democracia indefinidamente”
Paulo Abrão
Diretor-executivo do WBO
A ação do WBO
O WBO empreendeu esforços para que organizações da sociedade civil brasileira dessem a conhecer, nos EUA, a atual situação de ameaça à democracia, ao meio ambiente e aos direitos humanos no Brasil. Como parte desse esforço, representantes de 19 organizações brasileiras estiveram em Washington em julho, em encontros com congressistas, com o Departamento de Estado e com organizações da sociedade civil local.
Desde então, deputados e senadores americanos que receberam essa comitiva fizeram pelo menos três pedidos formais ao presidente Joe Biden para que ele usasse suas prerrogativas sobre a política externa americana para indicar a Bolsonaro que os EUA não aceitariam em hipótese alguma relacionar-se com um governo golpista. Além disso, o Senado americano aprovou por unanimidade uma moção neste sentido.
“A defesa da democracia brasileira não importa apenas para o Brasil. Um país com essas dimensões, com esse peso e com essa importância está inevitavelmente interligado com os demais. É nesse sentido que os atores internacionais agem: para mostrar que prezam pela democracia brasileira e que estão vigilantes a esse respeito, em solidariedade e em apoio aos que lutam para preservar a democracia dentro do Brasil”, disse Green.